RESPINGOS DE LEMBRANÇAS


RESPINGOS DO COTIDIANO RURAL

Ao cair à tarde, quando o sol se põe, a saudade aperta. E monitorados por minha mente aparecem os respingos de recordações que foram arquivadas em minha memória, a lampejar nítidas imagens, sabores e sons, apresentados por uma tela imaginária. O cheiro de rapaduras na ultima taxada do dia sendo apurada no engenho. Bagaços da cana povoados pelas laboriosas abelhas, exalando seu odor azedo. Acordes e partituras que só a natureza seria capaz de apresentar, nas belas tardes de outono, quando no bambuzal, silvavam fortes os pássaros preto, se discordando entre si, e com os demais passarinhos, na disputa pelo seu lugar de pernoite. O cheiro podre do brejo subindo as encostas, empurrado pelo vento vespertino que parecia estar à busca de um crepúsculo, anunciado pela áurea franja do poente, sobreposta ao arvoredo na divisória do longínquo horizonte entre céu e terra. Resíduos do sol a refletir sorvidos pelas penas do bando de garças que passavam pelas alturas deixando o banhado a buscar nos montes seus dormitórios.
Ao longe o ladrar de um cão espreitando a lua cheia. Que surgia correndo ligeira pela passarela azul do infinito a brincar com as plumas brancas que vagam sem rumo ao leu. Distante no estradão o gemido do carro de boi adentrando a noite. A bulha na palha seca da roça de milho, donde passam ruminando as vacas rumo ao curral. E ao longo da paisagem às chaminés pincelando o verde das matas, com seus filetes brancos encurvados sobre o ventre da terra sinalizando o fim de mais um dia no cotidiano rural...
 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 19/01/2015
Reeditado em 22/01/2015
Código do texto: T5107077
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