A NOVA "PONTE"...

Atravessei mais uma ponte. Das pontes que ligam minha vida e, em cada inicio de nova saída, leva a chegada em despedida. Nesta transição, de ponte para ponte, existem dois horizontes, um a se pôr e outro a renascer. A ponte que atravessei, ficou para trás. É passado agora e, as falhas que ficaram não mais a abalarão. Pois ninguém mais a atravessará.

Mas, agora penso a nova ponte. Vou percorrê-la. Preciso vencê-la... O seu projetista, já a definiu, há muito tempo. E todas que já atravessei e atravessarei. E o mais interessante, é que elas, simultaneamente foram e serão percorridas e construídas. Sou eu, e cada um de nós, os viajantes e os construtores, ou melhor, as ferramentas (acho melhor ferramentas, pois se nós não existíssemos, o tempo faria as pontes, sem nenhum passageiro, deserta. Ele é o construtor).

Vamos, demos o primeiro passo, ligamos já os motores. Cada um a atravessará com o veículo ao seu dispor. Mas, necessário é limparmos as ferramentas, ajustarmos, calibrarmos e lubrificarmos elas. A ponte, ajudaremos a construir também... Lembrem-se...

Quando penso na ponte que ficou para trás, ainda perto, vejo a ferramenta que usei, muitas vezes inadequada para o tipo de serviço que se apresentava. Com isso a ponte, em alguns percursos ficou mal acabada e, até comprometida em sua estrutura. No entanto, também vejo muitas ferramentas que passaram inúteis, se deixando enferrujar, emprestáveis. Muitas, talvez, tentando lhe destruir as bases. Embalde tentamos à muitas ajudar. É um desalento, e ao mesmo tempo um consolo...

Sigamos, já começou sua construção. Impossível é pará-la.

Refletindo sobre qual o material usaremos? Cimento e brita, areia e água. E para que seja armada e resistente às intempéries, necessário se faz um aço resistente a todas as trações. E dois aditivos que ajudem na aderência dos materiais e sua conservação. Aditivos poderosos e ao mesmo tempo sutis e disfarçáveis...

A nova ponte vai passar por solos imprevisíveis. Por sobre lagoa, rio ou mar e, nas profundezas invisíveis, teremos que fazer suas bases, sem ruir ou afundar, sólidas, longas, robusta e... Mais incríveis.

Nas águas, ela erguida, refletirá em todo percurso o céu azul ou tempestuoso, a noite encoberta ou enluarada. E os astros serão testemunhas oculares de toda construção. E nessas águas, estarão os mistérios e, cada um de nós poderá parar e mergulhar em suas profundezas um dia, sem deter a construção em nosso caminhar. Precisaremos fazer manutenções periódicas nas estruturas submersas para que não roam, com a ação das águas e suas correntezas.

O instante urge... Toda atenção é necessária. A cada segundo construída estará mais próxima do seu final, e quando menos se espera, chega sua conclusão. Que ponte nós queremos? Estável ou instável? Maciça, bruta, pesada, com desperdício de material e de má qualidade, ou uma livre, espaçosa, moderna e com material de primeira (uma ponte estaiada ou pênsil)?

É assim, que construiremos o novo ano (nossa ponte). A ponte representa mais uma etapa de nossas vidas que atravessaremos. Nós somos os viajantes, com a responsabilidade, também, das ferramentas para sua construção. Cada uma com sua utilidade e importância. Seu DOM!

E os materiais? Levamos areia. O nosso tempo, a disponibilidade que temos. Trazemos a brita, a resistência e a persistência de nossa vontade determinante. O cimento da paciência a preencher os espaços e a revestir a vontade e o tempo. Por último a água dos sentimentos, a reagir em contato com os demais materiais. Dando a quantidade exata para a sua agregação. Mas, no interior deste concreto, há de haver a fé, "aços" para resistir as (a)trações do mundo. Que levam pontes a sua ruína. E, finalmente, somente com os aditivos, do amor que levamos no coração dando maior resistência ao "concreto" e a caridade, o amor em ação, dando-lhe o revestimento externo definitivo, a "ponte" será construída com toda segurança. Pois, sem esses aditivos, até mesmo os

"aços" da fé perdem suas forças...

Façamos desta "ponte" em sua construção, a mais bela, a mais resistente possível, para que as próximas sejam passagens para um mundo cada vez mais feliz e justo. Com a natureza regenerada e os homens mais fraternos. Pois, que nelas passarão os nossos filhos, e netos, e... Feliz "ponte" nova e sólida construção!

Autor: André Pinheiro

02/01/2015

Texto publicado na Câmara Brasileira de Jovens Escritores - Livro Contos de Verão - Edição especial 2015 - A ser lançado em março de 2015.