SER MUTANTE
Hoje acordei lua.
Mas já fui nuvem passeadeira do céu
tomando mil formas, moldadas
pelo vento...
Já fui rio, caudaloso,
ou de águas plácidas, arrastando folhas
que a natureza descartou.
Já fui fera, lutei, elevei a voz
e outras vezes, apenas sussurrei
com um fio de voz,
porque me faltou coragem!
E ainda, houve dias,
em que fui saudade, dor infinda
vinda do âmago, e até lágrimas
com gosto de sal
que às vezes se tornam necessárias
para se dar valor ao que se é...
Ah, quantas coisas já fui!
Hoje, como lua, me tornei nostalgia,
musa que enaltece o coração poeta.
E, tenho certeza, um dia serei sol,
a iluminar o caminho da noite
rompendo as barreiras da solidão
que às vezes me assola,
ou serei chuva, e molharei a natureza
de águas da vida,
fazendo brotar em mim, o desejo,
cada vez maior, de ser apenas eu,
um simples ser,
com o dom da vida,
a povoar essa imensidão sem fim
que é o universo,
talvez sendo água, ar, sal
ou o sabor intenso do amor
que existe em cada célula,
cada pedacinho deste meu ser,
hoje tão mutante!