Ode à um amor morto

Ainda penso em você antes de dormir. Penso em você ao acordar. Suas fotos ainda no apartamento. Suas músicas ainda no ar... Ainda choro. Ainda choro. Ainda não te esqueci... Enquanto isso o mundo gira, as plantas nascem, o sol se põe, o tempo passa, as pessoas vivem, e eu... Sinto.

Sinto muito. Sinto muito. Sinto muito que você não esteja aqui... Para ver o quanto mudei depois de você, depois de ‘nós’.

Lá, no começo, no inicio de tudo, nunca pensei que seria assim... Por fim. Mas quem imagina? Quem haveria de imaginar que uma história que começou com brilho nos olhos terminaria com lágrimas em seu lugar?

Quando você segurou na minha mão disse que andaríamos juntos até o fim... Que fim? Que caminharíamos lado a lado... E quantas foram as estradas! E tão longas as caminhadas! Que eu, no auge de minha loucura, imaginei que estava ali a cura da minha solidão crônica... Por fim...

Mas, quando você olhou para o lado e soltou a minha mão, correu tão rápido que não pude te alcançar, parada eu fiquei... Parei e quase caí... Não sabia mais andar.

Achei que sem suas mãos minha vida, meu ser, e sentido, não existiam mais...

Tola fui quando tentei correr atrás.

Nossos amigos já cansados das minhas lamentações, dos meus cabelos desgrenhados, dos meus olhos sempre inchados de tanto chorar, do meu rosto tão mais pálido, da minha falta de vontade de cantar, me indicaram um novo amigo, um médico para me consultar, falar da minha doença, contar sobre você... Resolvi ir conhecê-lo, um homem alto, elegante, perfumado e com olhar de gelo. E foi assim, que deitada, contei a ele sobre nós... Ele sem aumentar a voz, com um ar indiferente, me mandou simplesmente ir á frente de um espelho e olhar minha aparência, disse que o que eu tinha era carência, e que o que me faltava era amor-próprio, pediu para ir me cuidar, fazer o que eu queria, e aos poucos te esquecer... Achei que ele era louco, ou que se fazia de bobo, saí sem pagar...

Voltando para nosso lar, vi algo que me lembrou você. Aquilo era loucura! Não aguentava mais tanta tortura, então fui passear... Entrei naquele bar onde a música era alta, e as pessoas felizes. E, para minha surpresa, de longe vi, sentado em uma mesa, com pessoas ao redor, você sorrindo muito, gargalhando alto, contando os fatos de acontecimentos que não presenciei... Você estava muito bem, muito novo e mais contente, tão mais sorridente.

Fiquei vermelha, primeiro de vergonha, depois de raiva. Eu, tão desarrumada, tão menos ‘eu’ do que era antes, ao ver que você me olhava, rápido me escondi... Pela última vez.

A raiva as vezes faz bem. Foi a raiva que me fez jogar fora tudo que me lembrava você. Foi a raiva que me fez cortar os cabelos, comprar roupas novas. Foi a raiva que me fez sorrir...

Entrei pra uma aula de dança, aprendi a sambar. Ouvir músicas me fazia cantar. Rodopiava pelos salões, me pintava antes de sair... E o que eu aprendi?

Que a vida sem você se faz possível, e hoje isso é tão mais visível do que há um tempo atrás.

Que eu não preciso de ninguém ao meu lado, contando os meus passos, pra me segurar.

E hoje se lhe escrevo esse verso é pra que eu não me esqueça, embora não pareça, de lhe agradecer, por tudo que você foi na minha vida, pelo que me fez de bom... Ao desistir de ficar ao meu lado, você, meu amado, deixou livre um espaço que em breve estará ocupado por um novo dom...