A Sobrevivência do Homem-Deus
Whitman (o poeta da meia-noite, do sono, da morte e das estrelas, que se autoconsiderava uma espécie de deus libertador americano, contrapondo-se às tradições, que para ele eram coisas mortas, fria argamassa e tijolo), aquele que não necessitava de nenhum ídolo que não fosse ele próprio, é considerado o centro do cânone americano.
“Não posso conceber nenhum ser mais maravilhoso que o homem”, dizia. E ele nos impressiona, sobretudo, ao lançar um grito eterno e metafísico para o futuro, um sonoro e alto brado à procura de ouvidos seculares que pudessem ser os próprios, preparados ouvidos para o murmúrio poético, metafísico e ardente:
“Cheio de vida, hoje, compacto e visível,
Eu, com quarenta anos da idade no ano oitenta e três dos Estados Unidos.
A ti, dentro de um século ou de muitos séculos
A ti, que não nasceste, te busco.
Estás lendo-me. Agora o invisível sou eu,
Agora és tu, compacto, visível, o que intui os versos e o que me busca,
Pensando o feliz que seria se eu pudesse ser teu companheiro.
Sê feliz como se eu estivesse contigo. (Não tenhas demasiada segurança de que eu não esteja contigo).”