Outros

De repente, a inquietude traz a necessidade de mudanças. Para outros ares, em outros cantos. Outro corpo, outra voz, outro rosto. Novas formas, formatos e formações. O desmame e abandono de uma vida falsamente vivida, na qual prevalecem vontades dos demais a despeito de desejos pessoais. Correr em direção ao nada, que espera sem expectativas. A incessante fuga de si mesmo.

Entre pernas, olhos, lábios, a busca pelo indizível, inaudível e inimaginável. Os ponteiros do relógio apontam a perda de tempo. Tic, tac, tic, tac, tic, tac. Sem controle sobre o passar dos dias. Outros a controlar seus passos. Laços e traços, que permanecem ocultos pelo decorrer dos minutos. A vontade lancinante de escapar de mãos estranhas, que o tocam com vestígios de impiedade camuflada pela compreensão.

Incompreendido. No canto, com as palavras impronunciáveis vagando em sua cabeça, aguarda na fila dos perdidos a sua vez. Andar, sair, caminhar, apontar. Confrontar. Livrar-se do fardo excessivamente pesado de ser a falsa imagem do homem disfarçado de paz. A calmaria característica que lhe fora imposta obrigatoriamente para que silenciasse enquanto ansiava por berros agressivamente doentios, socos, pontapés e lutas mortais. Calado, morria por dentro. A cada dia, deixava-se para trás e incorporava o que era alheio a sua vontade. Realizava objetivos perversamente desenhados por eles. Sempre eles. Terceiros.

O fluxo. Um pé à frente. O corpo seguia o ritmo dos demais que abriam o caminho. Iludidos que são, acreditam que chegarão a algum lugar que possa suprir o vazio da existência. Com sorrisos bobos em seus rostos, estão à espera de uma promoção, de amor, de gratidão. Outro pé à frente. Conversas risonhas e risíveis. Diálogos e assuntos vãos se desmoronam diante de seus olhos. Opta por preservar sua solidão, que, de repente, traz a inquietude necessária a mudanças.