Fotografia © Ana Ferreira
“Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem. Cada um como é.”
(Fernando Pessoa, in Poemas de Alberto Caeiro, 1946)
CAI UMA CHUVA MIUDINHA...
Cai uma chuva miudinha que aquieta o voo azul dos pássaros da alma.
Ao som do violino da manhã, num suave ondular de sentidos,
Gotas resplandecem no seu encantado ballet, deslizam, cristalinas.
Há uma alquimia de sensações querendo voar sem tempo.
Há um afastar de névoas magoadas de ausência.
Há um universo por descobrir na etérea canção do vento.
Há um sibilante respirar de poesia que perfuma a minha essência.
Há uma doce fragrância no seio da terra, a se desprender.
Há um aveludado escutar de saudade entrelaçada na neblina.
Há um rodopio de sonhos que sorriem, sem medo de crescer,
Em cada recanto do jardim da minha alma, menina,
Enquanto um pássaro azul paira no ar, traz no bico,
Os versos molhados de um poema por nascer...
Ana Flor do Lácio