Fotografia

Calo-me a boca ao ver tua imagem estampada em tela, onde o enegrecido e esfumado tom de maquiagem não é facultado, mas sim imposto pelo brilho dos teus olhos, que se firmam no distante mundo doutra tela, para com ela imortalizar na estática pintura o vagar de um pensamento.

Tua boca me chama os olhos, que sem se cansarem a contornam em sua perfeita simetria. Nela vejo um mundo de sonhos e mesmo que a tela a tenha fria, o meu desejo lhe dá vida e busca na estampa a maciez deliciada em um tempo remoto.

Teu rosto pede por mãos que te amparem antes de um beijo apaixonado, teu queixo se insinua, se mostra e arranca de vez o meu moralismo.

Teus cabelos postos como ondas de um mar tênue de amantes deixam discretamente à mostra um pequeno traço de tua orelha, na qual o amor sussurraria seus cálidos quereres.

Teu pescoço é na imagem um altar, que graciosamente sustenta toda tua beleza, porém, envolto por teus cabelos-mar não me assustaria em tê-lo como a pontinha de um iceberg, ao qual me lançaria em busca de naufragar.

Mil palavras não diriam a tela...

Mil palavras não falariam de ti...

Mil palavras seriam apenas um resumo do infinito contido entre a frieza da tela e o desejo ardente de quem a vê.

Rogério Nolêto
Enviado por Rogério Nolêto em 30/12/2014
Reeditado em 02/01/2019
Código do texto: T5085836
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