Palhaço

O palhaço andava contente na chuva,

e trazia flores nas mãos,

e trazia um coração devoto,

cheio de saudades do que nunca existiu.

O palhaço parecia bem.

Andava asseado e engomado,

atravessado pela

atenção da moça,

andava cismado pelos becos para

não contrariar a reza e a família,

andava sem saber por onde andar direito.

O palhaço sabia demais.

Sabia da pequenez de amores tão ínfimos,

mas resolveu se atirar.

Sabia do caos tamanho que lhe esperava,

mas resolveu jogar.

O palhaço e seus picadeiros.

Praguejou,

pestanejou,

amou deveras,

coletou impostos ou quem sabe delirou

alguma idiotice pelas madrugadas,

telefonou,

escreveu poemas insípidos...

O palhaço se fez mudo.

O palhaço se fez imundo.

Palhaço,

tuas barbas reclamam dos molhos,

teus amores esperam inquietos e

tua pele reclama da fumaça que te esconde

nos porões.

Palhaço,

mais vale teu mundo de fantasias

que um coração de uma mulher.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 23/12/2014
Código do texto: T5078975
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