Palhaço
O palhaço andava contente na chuva,
e trazia flores nas mãos,
e trazia um coração devoto,
cheio de saudades do que nunca existiu.
O palhaço parecia bem.
Andava asseado e engomado,
atravessado pela
atenção da moça,
andava cismado pelos becos para
não contrariar a reza e a família,
andava sem saber por onde andar direito.
O palhaço sabia demais.
Sabia da pequenez de amores tão ínfimos,
mas resolveu se atirar.
Sabia do caos tamanho que lhe esperava,
mas resolveu jogar.
O palhaço e seus picadeiros.
Praguejou,
pestanejou,
amou deveras,
coletou impostos ou quem sabe delirou
alguma idiotice pelas madrugadas,
telefonou,
escreveu poemas insípidos...
O palhaço se fez mudo.
O palhaço se fez imundo.
Palhaço,
tuas barbas reclamam dos molhos,
teus amores esperam inquietos e
tua pele reclama da fumaça que te esconde
nos porões.
Palhaço,
mais vale teu mundo de fantasias
que um coração de uma mulher.