Latência
Toda vez que me deparo com o medo
Não faço outra cousa senão ficar quieto
Talvez essa minha atitude me retenha
E a ação que deveria tomar fica para outro dia.
Em tempos de guerra ou revolução
Acho que minha covardia cederia
E para enfrentar o medo e apostando no novo
Eu sairia sem arma, sem nada, e lutaria.
Sei que existe em mim uma coragem escondida
Em tempos incertos é que nos conhecemos.
Temos um lado que não conhecemos
Ou quem sabe nosso instinto primitivo
Só se manifesta em momentos limiares
Não há segunda chance, não há tempo de espera.
O relógio corre mesmo que ninguém lhe peça.
O tempo mecânico segue outra lógica, segue outros ponteiros,
Porém, são tempos, são distintos, sabemos,
Mas não se pode negar: só será manhã depois da madrugada.
No berço um leve choro se ouve
Por certo é o bebê anunciando que acordou.
Também a leoa cuida do seu filhote, e também a sabiá,
A elefanta, a lontra; todas as mães cuidam, sabemos.
É nesse movimento perpétuo que tudo transcorre: dores, amores, saudades,
Lembranças esparsas de momentos que marcaram o tempo; lembremos.
Quem sabe um dia desses acordarei com gritos e passeatas
Quem sabe não ouvirei bombas, nem disparos,
Quem sabe o choro do bebê seja somente de aviso que acordou; não sei.
Na próxima esquina há um futuro; vamos toma-lo!