Minha cama
"Meu pobre leito! Eu amo-te contudo!
Aqui levei sonhando noites belas;
As longas horas olvidei libando
Ardentes gotas de licor dourado,
Esqueci-as no fumo, na leitura
Das páginas lascivas do romance..."
(ÁLVARES DE AZEVEDO)
Rosada e fragrante ela me aguarda toda noite com um sensual e lânguido sorriso capaz de derreter o mais frígido dos corações.
Deito-me em seu macio e acetinado colo, que mais parece uma nuvem, e deixo-me enlevar por seu perfume de lavanda. Gentil amada, quantas vezes não secaste minhas lágrimas, quantas vezes não me amparaste em minha própria loucura, quantas vezes não foste a confidente de meus pueris sonhos! És a única que pode unificar todos os meus amores perdidos em teu corpo, e por isso só posso ser feliz quando durmo em meio a teu abraço.
Ah, minha cama, única que julgo digna de chamar de "minha esposa", quando eu for um poeta que valha mais que a roupa do corpo, haverei de dedicar-lhe um desses melosos e românticos sonetos tão em voga, que faça com que todas as outras camas (e até mesmo as mulheres) tenham inveja de ti.