O Analfabeto Político (Brecht, com licença 2)
O analfabeto político não manifesta sua opinião
Ele não tem opinião, ele esbraveja o ódio, o rancor
Também, difunde o racismo, o preconceito.
O analfabeto político, dada sua ignorância,
Se aventura ao jogo sujo dos hipócritas,
Fecha os olhos para os políticos corruptos
Quando esses compactuam das suas ideias,
Mas, tão analfabeto que é,
Sai às ruas gritando palavras morais.
O analfabeto político pensa que discutir ideias
É ofender quem diverge das suas;
Ele não é capaz de dialogar, ele é truculento.
O analfabeto político se deixa acreditar na mídia.
Na mídia que destorce e inventa,
Na mídia que se associa aos grandes grupos financeiros,
Às grandes construtoras, aos conglomerados alimentícios,
E que por isso, milhões de seres humanos morrem de fome.
O analfabeto político defende regimes autoritários;
Mal sabe ele que nesses regimes ele não tem voz.
O analfabeto político é tão imbecil que acredita em tudo que lhe falam;
Acredita que encarcerar pessoas é a solução para a segurança;
Mal sabe ele que quando se abandona a educação, a saúde, a moradia...
Os governantes e seus apoiadores, os grupos econômicos,
Sabem e produzem a miséria, sabem que a criminalidade,
A prostituição, o tráfico, são decorrentes das suas políticas.
O analfabeto político estufa o peito para dizer "não tô nem ai", "não foi comigo" "quem mandou não obedecer" "no mínimo aprontou alguma"
E ele, imbecil que é, vai para casa, liga sua televisão,
E assiste a vida passar, colorida e perfeita,
E levanta no dia seguinte. Pega ônibus lotado, metrô às tampas,
Enquanto, aqueles que mandam na mídia, no agronegócio, nos bancos
Faturam e jogam na bolsa a vida que ele perde no ônibus lotado, no metrô às tampas, na escola sucateada, no hospital sem médicos,
na criança do semáforo, na cadeia lotada, no negro assassinado....