Afinal, o que procuras no fundo de minh'alma?

me dói por dentro quando rio até as orelhas ao fingir que sou o que não é

para me esconder de ti quando não sou

e me dói quando olhas nos meus olhos e no fundo da alma

afinal, o que procuras no fundo de minh'alma?

se lá quando vês o pó do que sobrou te decepcionas

e choras escondido e pede desculpas com os olhos?

mas afinal, por que olhas no fundo de minha alma se as lembranças do que se foi estão petrificadas feito estátuas de sal?

por que queres tanto meu olhar sob ti, nefasto?

e minha mão em teus braços e a maçã do meu amor entregue a ti somente?

por acaso eu, submerso em aura egocêntrica, bêbado do olhar para mim mesmo, cansado de por entre a camisa ver os ossos de minhas costelas respirarem, poderia ajudar a quebrar as correntes que tu próprio enrolastes e trancastes com pequenos e rubros cadeados?

eu, no âmago do impulso reprimido, adornado de desejo contido, poderia desneblinar esta tua vida amargurada?

me fizeste de farol para seus anseios e eu, de ti, âncora para minhas necessidades.

enrolastes teu corpo e tua dança sob o tecido fino do meu corpo e em troca recebestes a agulha que costura o fio de lã em que caminho para o oeste.

sabes onde, em manobra arriscada de um ponto, o fio partiu-se me deixando à mercê. remenda-o. ou desista.

sufoca esta tua dor.

Lucas Madí
Enviado por Lucas Madí em 14/12/2014
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