FOREVER

Não reclamo da precocidade de dispor do corpo, porque entrar em teu universo de alcova para mim foi prazer e intento. Desejo-te ainda mais receptiva de mim do que apenas como posse física, que de fato foi, pois assim sentia necessário. Urgia o corpo em seus quereres. Nem houve ainda tempo para avaliar o gozo que propuseste, e, sim, a constatação deliciosa de te fazer fêmea, gozo por várias vezes havido. O animalzinho no cio. Espero que possamos ficar novamente e tu muito mais solta, plenamente disponível ao exercício ingênuo da luxúria. Desejosa do fruto das esperas. Uma ninfa em pleno ciclo freudiano. Sinto que urge o prazer em primeiro lugar, entre um e outro. Aliás, no jogo do amar, quando bem ajustado e urdido, tudo é de urgência, como a água que escorre entre os dedos e se perde acaso não bebida com sofreguidão. O que me agrada e faz bem é o sobregozo, sempre após o teu ato de entrega e clímax, nem tanto de imediato. Por machismo atávico (num cochicho) o azo e vezo praticado me faz sentir que sou único (todos desejam sê-lo, no amar) por carinhos e intimismo, imprestável à confidência e à delação a outros. Assim, quase nada vaza, mesmo aos do entorno pessoal. E pouco importa os anelos tidos e havidos – de lá e de cá – e, sim, o bom e o aprazível que tens tido por minha vida e o apreço subsequente. Sim, é aconselhável e útil nunca interferir no teu dia a dia, da mesma forma que a sombra ao sol quentinho do verão, silhueta banhada que não se percebe de pronto, porém sente-se no andar do corpo. Um gole d’água boa em plena canícula.

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2014.

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