O imortal
Há muito tempo eu já estive preso no que se pode chamar de "invólucro material", quando os sóis eram intransponíveis e a poeira das estrelas inalcançáveis. Toda a barreira do tempo como um oceano negro erguia-se. E os olhos, ainda em carne, vislumbravam, atônitos, o firmamento. O infinito, o eterno, o tudo, o nada não se podiam compreender. Éramos apenas coadjuvantes na majestosa encenação da vida, eu e os que comigo sobreviviam. Mas eu desejava viver, além de tudo.
Como podes tu enxergar além de teus limites? Acaso é possível para ti esgueirar-se entre os mistérios que encerram em si a fonte de todas as coisas? Não mais possuo prazeres como dantes, não mais me arrependo por eles com a mesma intensidade. Não mais morte.
Renúncia!
Não se pode controlar todas as coisas. Há um preço a ser pago e sempre houve, não há atalhos e nunca houve. Dolorosas são as colunas e as portas da sabedoria, e, ainda assim, permanece a certeza de que a totalidade do poder e do conhecimento não se pode alcançar. A corrupção do corpo atinge também a alma, putrefando-a. Poucos e imensuravelmente poucos são os que compreendem, e estes são aqueles que nos perturbam e nos inquietam de maneira que fazemos da existência de tais seres uma aventura, ou até mesmo uma obstinada personificação de pensamentos íntimos.
QUINTA-FEIRA, 14 DE MAIO DE 2009, às 23:16