as flores da jarra...memórias
No fundo sou sempre a mesma pessoa, solto-me como folha de árvore gosto de liberdade, não duraria um único dia sem ela, esta que é minha companheira de há muito. Olho as flores numa singela jarra, que continuam vivas e frescas em cima da mesa, resistentes, combativas, tal qual como eu resistem ao tempo dentro da minha memória. Oiço a chiadeira da porta a abrir-se com a força do vento e eu amo o momento, é como se estivesse a abraçar a mãe, o pai ou a avó, e o meu coração cai ao chão de alegria, o sol da tarde banha tudo ao redor até à encosta onde crescem florzinhas, amarelas (as azedas) e a brisa as dobra levemente, continuo de olhos fechados acrescentando sempre mais uma coisa ou outra às memórias que inundam meu coração aberto. As flores murcharam, as árvores perderam as folhas ficaram despidas, tão nuas quanto eu, até minhas palavras mudam de significado ou será o sono? Uma árvore de Natal com velas a um canto da casa, não tive, presentes não tive, mas em compensação tinha muita imaginação e se a porta chiava ou o soalho rangia, logo uma fada por perto, uma estrela que me sorria, e até a neblina sobre o rio me trazia o príncipe encantado...meu Deus! Porque me abençoaste era uma criança feliz, isso não esqueço e Te agradeço. O vento tem ainda o mesmo canto, povoa-me o ouvido, dança e espalha os aromas pela aldeia e o meu corpo cheira a terra molhada, dessedento-me com o orvalho da madrugada e sonho voar no azul do céu.
natalia nuno
rosafogo