De Cecília Meireles, assim interpretei a linda poesia...Se não Houvesse Montanhas.
Se não houvesse empecilhos para as realizações humanas, se aquilo que eu pensasse estivesse ao alcance dos meus braços, ou melhor, neles pousado! Se não houvesse o encadeamento dos dias e dos instantes da memória e se tudo isso me lembrasse nuvens oscilantes e/ou, grãos de areia tocados à revelia...
Se a brevidade da vida não se resumisse em despedida, solidão e saudade.Refiro-me a encontros, reencontros e desencontros; parca convivência, vidas perdidas...
Assim fora, jamais precisaria ter tido um cavalo que teve asas e que jamais pastou; nem perseguiria fantasmas moventes em intermináveis labirintos do meu eu e dos instantes perdidos de uma vida finda.
Se não houvesse montanhas!
Se não houvesse paredes!
Se o sonho tecesse malhas
e os braços colhessem redes!
Se a noite e o dia passassem
como nuvens, sem cadeias,
e os instantes da memória
fossem vento nas areias!
Se não houvesse saudade, solidão nem despedida...
Se a vida inteira não fosse, além de breve, perdida!
Eu não tinha cavalo de asas,
que morreu sem ter pascigo
E em labirintos se movem
Os fantasmas que persigo.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles
(✩ 07/11/1901 — † 09/11/1964)
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