DO UNIVERSO DA CONFRATERNIDADE

Nem esta orla azul-esverdeada de Salvador da Bahia, nem o calor gostoso temperado pela brisa marinha, nem o acarajé da linda negra baiana (esplendoroso anjo engomado de branco) fazem-me esquecer de quem amo e gosto de curtir, mesmo à distância física. A poética dança nos meus neurônios fazendo coro ao sincretismo do Senhor do Bom Fim – e caminho de joelhos. O andarilho, de há pouco, ardera o torso na canícula temporã de Posadas, na pátria argentina. De Dourados, sua gente de poesia migrava nas trilhas do agreste dos campos de trigo e soja, do gado manso das comitivas pelas estradas, jungindo o brasílico agridoce dos amores transfigurados em poética e associativismo. Pelos ares, airosa, voeja a arara azul e o seu estridente canto estimula artérias clorofiladas. Nesta ambiência, sinto-me vivo de oxigênios em Itaipu Binacional e sua pujança ímpar de arquitetura e águas. E o andejo bebe o viço que lhe mantém vivaz, possivelmente por haver sido destinado à condenação, por vulgar espécime caminhante, sempre querendo sorver descobertas. A vida segue o seu curso neste Brasil dos imantados dedos da Onipotência. De somenos, beija o ventre da Pacha Mama, pés descalços, por haver sido entronizado ao universo do caos a recompor pela arte. A Poesia exsurge – densa e absoluta – nos neurônios de quem pratica a Confraternidade. Criador e criatura. Cada eito com a sua beleza de sentimentos imemoriais. Mais uma vez dobro os joelhos em agradecimento ao Absoluto. Do qual faço parte pela crença de sabê-lo.

– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2013/14.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5055993