A ALMA DAS COISAS
A alma das coisas que um dia me foi tão familiar... A alma delas que um dia julguei conhecer... A alma delas que julguei também me conhecesse...
Ah, a estranheza de hoje, de há muito, estranheza diversa da de antigamente, estranheza essa de agora que foi entrando por dentro das coisas... que acabou por tornar impermeável e fora de alcance tudo o que julguei conhecer... Certamente também eu, tão impermeável quanto para o conhecimento dela... da alma das coisas que em tempos pretéritos parecia me conhecer ... Ah, parecia me conhecer...
Um dia, há séculos... me telefonaste para dizer que os seres que te abandonaram aqui jamais voltaram para te buscar. Eu, cifradamente, que meu ex-companheiro estava próximo, respondi que também assim comigo se deu. Ah, nós, os loucos que nunca o deixaram de ser... Os loucos familiares que nunca mais conseguiram se comunicar por uma língua comum, de Ets ou de não.
Olho a vida ao redor, a restante vida ao redor e não me sei o que dizer nem o que sentir... É como habitar um universo paralelo com - não vivo sozinha - alguém que se julga real, que me julga real e isso aumenta mais ainda a estranheza de tudo.
E no entanto sou real: braços, pernas, um coração que bate, um nome próprio (???????), um cérebro que pensa ou julga que... uma casa palpável... uma paineira do outro lado da janela...
A vida inteira ouvindo: Poetas são assim mesmo... Poetas são assim mesmo... De louco todos temos um pouco... De louco todos temos um pouco... (desconfio que alguns dos que me disseram isso achavam mesmo é que eu devia estar internada em um sanatório...)
Pois é... aqui sozinha com ela, sempre aqui sozinha com ela que não me sabe, não tem como me saber e é até bom mesmo que nada saiba jamais jamais jamais jamais jamais jamais jamais nada
dessa aqui presente (????????) criatura que... nem vale a pena nem é possível prosseguir...
E coisas muito doidas. Certa época, um psiquiatra e terapeuta meio filósofo, meio bruxo (pena que já não está há muito por aqui, seria ainda o bruxo possível) com quem eu me tratava, a gente parava o papo terapêutico e se punha a falar de literatura. Certa vez ele me deu um livro de contos seus para que eu fizesse uma leitura apreciativa, com a seguinte dedicatória: "À sacerdotiza de Hermes..." Pode?
Pois é... Alma das coisas... A minha alma... Que tristes estamos, minhas queridas! Que tristes! Que sós!
Ah, a estranheza de hoje, de há muito, estranheza diversa da de antigamente, estranheza essa de agora que foi entrando por dentro das coisas... que acabou por tornar impermeável e fora de alcance tudo o que julguei conhecer... Certamente também eu, tão impermeável quanto para o conhecimento dela... da alma das coisas que em tempos pretéritos parecia me conhecer ... Ah, parecia me conhecer...
Um dia, há séculos... me telefonaste para dizer que os seres que te abandonaram aqui jamais voltaram para te buscar. Eu, cifradamente, que meu ex-companheiro estava próximo, respondi que também assim comigo se deu. Ah, nós, os loucos que nunca o deixaram de ser... Os loucos familiares que nunca mais conseguiram se comunicar por uma língua comum, de Ets ou de não.
Olho a vida ao redor, a restante vida ao redor e não me sei o que dizer nem o que sentir... É como habitar um universo paralelo com - não vivo sozinha - alguém que se julga real, que me julga real e isso aumenta mais ainda a estranheza de tudo.
E no entanto sou real: braços, pernas, um coração que bate, um nome próprio (???????), um cérebro que pensa ou julga que... uma casa palpável... uma paineira do outro lado da janela...
A vida inteira ouvindo: Poetas são assim mesmo... Poetas são assim mesmo... De louco todos temos um pouco... De louco todos temos um pouco... (desconfio que alguns dos que me disseram isso achavam mesmo é que eu devia estar internada em um sanatório...)
Pois é... aqui sozinha com ela, sempre aqui sozinha com ela que não me sabe, não tem como me saber e é até bom mesmo que nada saiba jamais jamais jamais jamais jamais jamais jamais nada
dessa aqui presente (????????) criatura que... nem vale a pena nem é possível prosseguir...
E coisas muito doidas. Certa época, um psiquiatra e terapeuta meio filósofo, meio bruxo (pena que já não está há muito por aqui, seria ainda o bruxo possível) com quem eu me tratava, a gente parava o papo terapêutico e se punha a falar de literatura. Certa vez ele me deu um livro de contos seus para que eu fizesse uma leitura apreciativa, com a seguinte dedicatória: "À sacerdotiza de Hermes..." Pode?
Pois é... Alma das coisas... A minha alma... Que tristes estamos, minhas queridas! Que tristes! Que sós!