A tríplice aliança
O corpo machucado pelo trabalho duro pensa em se esbaldar; no pouco tempo que resta, pois, a segunda se avizinha.
O cérebro no afã de novidades reclama do pé de chumbo, digo, da bunda que se gruda à cadeira. A alma, cujo voo pousa sempre no mesmo ramo, aquela que amo, até se deixa levar contrariada, já quem nem corpo nem mente ousariam rumar a ela.
Os três discutem e tumultuam a reunião. A cabeça quer levar o corpo a andar; a alma rumar ao mesmo lugar, mas, indo sozinha, com suas asas. A mente com medo do ócio propõe negócio com o casulo, dar um pulo a um lugar de descanso. Mas, a gravidade pesa, e só a ela tem leveza de pluma; conclusão: conciliação, nenhuma.
O calendário palpita dizendo: Hoje é domingo; cérebro apossa-se da dica: bem lembrado! Mas, o peso pesado assegura que nadismo dominical é seu culto sagrado.
De repente os dois se assustam dessa discussão sem alma, assoviam e ela volta, solta aos contornos que sempre acarinha.
Eu, esse todo dividido, sou como juiz confundido, que valida gol impedido contrariando o auxiliar; depois da cagada feita, inseguro ele suspeita, que deveria atrás voltar...
E assim, sem mais nem menos, pela TV da janela vemos, a bela dos meus sonhos em displicente desfilar; incontinente o trio se apruma, como se ela fosse uma, clarinada militar; não ouço óbice nenhum, a contemplar o desfile da criança; talvez, solidão seja o inimigo comum, capaz de forjar por si, essa tríplice aliança...