A noite do quadro
As nuvens já deixaram suas estampas brancas e deram a vez à penumbra; o cinza e o negro se misturavam no céu, o vento se encarregava de ser o pincel...
As árvores flutuavam embriagadas no vento, as flores despetalavam, esbarrando umas nas outras, o horizonte se condensava em cores variadas, do vermelho amarelado ao marrom.
O manto da noite recobria todo o céu.
O povo da aldeia da praia correu em busca de um abrigo, a chaleira já fervia a água no fogão a lenha, que estalava o tempo todo.
A vovó se aconchegava na cadeira de balanço e tricotava uma meia para alguém. A menina olhava pela janela de madeira que pendida por uma dobradiça quebrada.
A mesa pequena de madeira maciça, ornamentada no canto, com um pequeno panetone e biscoitos, e flores secas já sem perfume.
O quadro era vivo, as pessoas colocadas sem sentido ali, o céu era o mesmo lá de fora e era noite.
O Natal só mais um, como vários sem importância festiva para mim, presentes, doces e três pessoas assistiam a TV.
Levantei-me, olhei pela janela e vi os gatos: eles brincavam de atacar uns aos outros, os cachorros já recolhidos em seus farrapos, as galinhas quietas no galinheiro, o vento já havia ido embora e, com ele, a chuva que se formou. Tudo estava em ordem.
O quadro estava perfeito, as pessoas colocadas ali com grande espontaneidade e os animais lá fora também.
Terminei minha última folha, já não havia mais nada para escrever, os contos ainda esperavam para serem vividos.
Olhei pela janela, os grossos pingos começavam a cair, os relâmpagos em guerra descarregavam mais eletricidade no céu, até se ouvir um estrondo ao longe.
Tenho que fechar a janela, será uma noite linda, vai chover.
“A transferência de posse da existência, pertence ao criador dos nossos sonhos.”