TEMPOS DUROS
Eu acho é pouco
Disse o soldado à mãe
que olhava o filho caído.
Quem mandou não trabalhar,
Não estudar, quem mandou?
Mas seu moço...
Nem terminou de falar
e recebeu uma bofetada na cara.
Cale-se mãe irresponsável,
não vê que o delinquente não prestava!
De armas à mão,
ameaçava o soldado a todos em volta.
Eu acho é pouco.
Se dependesse só de mim,
essa gente nem filho tinha, bando de imprestáveis.
Mas seu moço, deixa eu falar...
Fala! velha caduca, gritou a autoridade.
O senhor tem filho, tem esposa?
Claro! onde é que chegar?
Seus filhos tem escola boa, tem saúde boa?
E sua esposa, sua senhora, tem saúde boa?
O senhor, o senhor mesmo, tem bom salário?
Isso não interessa.
Disse o soldado, em tom menos brusco.
Quer saber, eu acho é pouco.
Esse fedelho merecia umas trinta bala, no mínimo.
Pois então complete o que falta,
Chorando respondeu a mãe que limpava o sangue do filho.
O soldado sem dizer nada, recolheu suas armas,
Entrou no carro e foi embora.
No cemitério da localidade, mais uma lápide era erguida.