Um tal Sertanejo...

Aquele homem sempre me cobriu de um tesão delicioso.

Há nele aquela coisa de quem sabe de quase tudo, ou de tudo, acho. E há, ainda, aquele corte raso, aquela palavra dura, aquele jeito de homem sem paciência, sem muito meio termo, sem a delicadeza dos mundanos. Há nele aquela hombridade, aquela coisa que a gente sabe que vai mexer e vai mexer fundo. E no profundo. E no fundo.

Ele tem a devassidão dos homens que viveram muito tempo sozinhos. Que foram para a cama com todas as putas. Que se mostraram garanhões e ainda assim, ele carrega uma simplicidade, uma inocência, um perfume de ipês amarelos e terras vermelhas.

Há nele o cheiro de pinga e a finesse de uma camisa branca, impecável. Uma inteligência superior, a capacidade do que é exato e ainda sonha com quimeras, com um fogão de lenha, uma rua perdida no meio do nada, uma mãe amorosa e a falta do pai.

Ele canta a desesperança todos os dias, como se a ter esperança de que se faça o que ele tanto necessita. Carrega amores e ódios. Carrega em seus ombros um peso de distância, de passado, de cheiro de pão e toalhas brancas. Carrega uma cruz de uma cidade longínqua e as despedidas. Carrega lembranças de sotaques, de maciez, de cavalos pelos campos. Carrega e carrega e tenta viver.

Tem dentro dele passagens que só ele conhece, amores que só ele viveu, sonhos que nunca contou, esperanças que jamais dirá e um caderno velho com poemas que ele rabisca no bar, modifica, e que voltam sempre a serem o que sempre foram: um grito.

É... aquele homem sempre me cobriu de um tesão delicioso...