Sua presença me alimenta

Quando a vi no corredor indo para o banheiro tive que me conter.

A casa era apertada e tive que me espremer para ela passar. Tive ímpeto de beijá-la. Estava junto da pessoa que mais amava naquele momento e ela não sabia o quanto era importante para o meu ser.

Ultimamente eu estava me alimentando da sua presença. Minha vidinha cotidiana não mais me satisfazia. Vivia como um adolescente esperando o outro dia para ir à aula. Só para vê-la de novo.

Quando a conheci como colega naquela faculdade, não esperava tamanha reviravolta no meu ser.

Misto de felicidade, alegria, imbecilidade de um viver “sem noção”. Vários sentimentos que estavam adormecidos afloraram abruptamente, de forma que me tornei refém dessa paixão inesperada.

Já havia passado por muitos amores e achava que minha vida amorosa se bastava no meu casamento atual, pois o companheirismo e respeito é a premissa na minha relação. Parecia estar tudo bem. Até agora.

Nos seus vinte e sete anos de vida, solteira, e eu nos meus cinquenta e oito anos, casado, não era provável possibilidades de um quadro realmente comum de romance.

Mas algo acontecia em mim que eu não conseguia controlar. Num crescendo inexorável, esse sentimento não parava de me espezinhar, cutucar a minha alma com tanta força que eu me entreguei, jaz.

Como um pássaro que é levado por um forte vento, fui plainando nessa maravilha que é o amor.

Aparentemente, ela não estava nem ai pra o que eu sentia. Mas eu não me importava. Nem me importo até hoje. Essa coisa me basta e abastece.

Amor platônico, mas que nunca deixou de ter seus momentos altamente sexuais em sua plenitude ilusória. Viagens românticas que só os idiotas apaixonados sabem fazer.

E ela, nem ai. Sempre.

Seu semblante me mostrava uma garota de vinte anos e isso me inibia um pouco, mas ao saber que passava dos vinte e sete, meu ego de macho, sutil e esperançoso, se empolgou para algo que poderia ser uma possibilidade, mas que efetivamente nunca se consolidou. Transformou-se numa amálgama de sentimentos fortes e confusos devido às variáveis de nossas vidas.

E ela, nem aí.

Cartas, poemas, textos eróticos, e como diz "O Cantor", só faltei ficar nu pra chamar sua atenção (e como seria ridículo). E ela nem ai.

Passa o tempo e eu me desespero, pois não sabia se ela pelo menos nutria algum sentimento por mim. Nada.

Durante nossa convivência, só senti algumas vezes seu rosto de aborrecida comigo por algumas brincadeiras até que uma vez me chamou de “sem noção”. Analisei, mas não adiantou. Eu estava realmente "sem noção”!

Pra mim, qualquer coisa que viesse dela para mim era um sucesso, mesmo que fossem maltratos.

E até hoje continuoassim "sem noção"...

11/13