PRISIONEIRA DOS MEDOS
Não me permito chorar por medo da solidão, por isso me divido em pedaços...
Não tenho medo do escuro porque as paredes do meu quarto são de vidro e transparecem todas as luzes do mundo...
Já enfrentei os algozes que carregavam tempestades que desaguaram na minha alma, abafando os silêncios de todos os gritos... e eu escrava de medos atrozes, sepultei frustrações nos ventos poentes e vou carregando as saudades dentro do peito do lado do coração... atravessando mares, montanhas e desertos sem medo da sorte ou de encarar a morte...
Mas às vezes tenho medo de olhar o infinito e esquecer que na vida não há meias verdades ou verdades absolutas... que nada é absolutamente certo ou errado dependendo das situações...
Às vezes me perco na imensidão duma praia deserta e sinto um medo estranho ao contemplar os vastos céus, pois meus olhos ficam inundados de lágrimas salgadas, parecendo dois brilhantes tremeluzentes iluminados pelo luar... e o mar os tenta levar para tão longe de mim... para junto do nada...
Às vezes tenho medo de que em alguma noite sem lua, não existam mais estrelas no céu... de que as estrelas cadentes não atendam os meus pedidos... de que a lua caia sobre os meus sonhos e os desmanche como o mar desmancha os belos castelos de areia que tanto esforço me dão para conseguir erguê-los...
Às vezes tenho medo que no meu jardim dos sonhos possíveis, as flores não possam florescer e murchem sem que algum dia possam sentir um beijo de amor... e ainda temo que nos meus próximos versos não restem rimas nem papéis para escrevê-los...
Há noites de breu... sem lua... num céu sem estrelas... em que vou esculpindo os medos do silêncio da noite... e onde surgem as tempestades que me apavoram... e trazem consigo os fantasmas dum passado magoado... que vão flutuando na minha mente... arrastando as pesadas correntes dos meus lamentos... ao longo dos corredores da minha vida... tentando algemar as sensações mais escondidas... deixando-me numa prisão de palavras... prisioneira dos medos que* quero esquecer...
Mas quando solto meus medos... acaricio os espinhos das minhas saudades... afago com ternura as doces lembranças duma doce ilusão... afugento os pesadelos nefastos que querem sepultar meus sonhos num vazio profundo... e jogo meus cabelos ao vento para que eles afastem as tempestades que tanto me apavoram... e quando por fim me trazem o calor do sol brilhante e a beleza do arco íris cativante... então se abre uma estrada florida por entre brancas nuvens de esperança... que vão afastando as grades do espanto e me libertam da clausura das teias do tempo... serenamente... placidamente... na busca duma eternidade sem destino marcado...
By@
Anna D’Castro