Destas coisas malucas de natal
Ainda sobre as coisas de Natal...moramos 18 anos no Menino Deus, bairro muito legal de Porto Alegre. Era um condomínio de seis prédios, uma construção antiga de tijolo à vista, a rua era poética, arborizada, muito bonita, terminava na frente do Guaíba.
Sempre tivemos sorte com a vizinhança, todo mundo cordial, musical, tivemos a sorte de vizinharmos com Cíntia de Los Santos, soprano jovem de voz linda e o marido dela, um jovem maestro pianista, da sacada, curtíamos os ensaios do casal.
Mas no Natal tudo era bem pitoresco (ou sinistro), as entradas dos prédios eram enfeitadas, gaúcho tem isto, não é muito dado a carnavais, mas no Natal o bicho pega, talvez pela influência das colonizações alemã, italiana e polonesa.
Mas bueno, cada prédio tentava enfeitar sua fachada mais que o outro, se alguém botasse um arranjo com 5 bolas, o vizinho sapecava 10, acho que as lojas de 1,99 nunca venderam tanto na vida, eram quilômetros de luzes coloridas, papais noeis pendurados por todo lado, só faltava iluminação nos rabos dos gatos e dos cachorros. À noite, conforme as pessoas iam chegando das aulas, do trabalho, das caminhadas, nos reuníamos em pequenos grupos para botar os assuntos em dia, até as fofocas eram comedidas, tudo muito discreto. Nos sentíamos felizes, porque era Natal, tudo cheio de luzinhas, o flamante caminhão da Coca passava pelo bairro, vermelho, todo iluminado – o motorista que devia estar pê da vida com a roupa de astracan e arminho num calor de 40 graus –, confesso, a única coisa que curto nestes ianques do inferno é a Coca-Cola, sou maluca por caminhão de Coca.
Estas reuniões tinham alguma beleza, vinham nossas lembranças da infância, os “causos” engraçados. Como nunca fui muito amiga de festas natalinas, rezava para que tudo terminasse logo, eu queria dormir e acordar no Ano Novo. Caraca, com montes de sobrinhos e afilhados, gastávamos demais. Natal me soava como quebradeira, ruína, déficit, inadimplência, depressão, céus, às vezes eu odiava o fdp (fiadaputa) do Papai Noel e lá se ia o meu espírito natalino.
Mas foi numa noite destas em que estávamos em animada conversa que chegou Gilberto, vizinho de cima, animadas, perguntamos o que ele estava achando da decoração dos prédios. Com um ar de espanto ele bradou: -“puta que pariu! isto parece uma zona!!!!!”.
Nos demos boa noite e fomos dormir...
Beijo a todos!