GROTÕES DE MINAS
Um dia, houve uma mata na minha infância.
Eu a atravessava a cavalo, na garupa, com meu pai.
Era um caminho, uma clareira que se abria rumo à cidade.
Ainda hoje os cascos do cavalo retinem pelos grotões, recuperados pelo ouvido da memória.
A poesia tem esse condão de nos fazer viajar distante.
Bendita a poesia que aviva dentro de nós o eco de solidões e ternuras que brincavam - e brincam ainda - de esconde-esconde nos desvãos da lembrança.
Eu criança me confesso.
Criança crescida que sempre terá um lugar dentro de si para o espanto. Alumbro-me nos versos que refulgem seus cascos na jornada.
Ainda hoje meu pai cavalga comigo.
Memórias de prata, alazão de luar.
Há, ainda, muitas matas a se atravessar.
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(Para Kathleen Lessa, dedico, pois ela sempre tem algum poema que me inspira)