GROTÕES DE MINAS

Um dia, houve uma mata na minha infância.

Eu a atravessava a cavalo, na garupa, com meu pai.

Era um caminho, uma clareira que se abria rumo à cidade.

Ainda hoje os cascos do cavalo retinem pelos grotões, recuperados pelo ouvido da memória.

A poesia tem esse condão de nos fazer viajar distante.

Bendita a poesia que aviva dentro de nós o eco de solidões e ternuras que brincavam - e brincam ainda - de esconde-esconde nos desvãos da lembrança.

Eu criança me confesso.

Criança crescida que sempre terá um lugar dentro de si para o espanto. Alumbro-me nos versos que refulgem seus cascos na jornada.

Ainda hoje meu pai cavalga comigo.

Memórias de prata, alazão de luar.

Há, ainda, muitas matas a se atravessar.

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(Para Kathleen Lessa, dedico, pois ela sempre tem algum poema que me inspira)

José de Castro
Enviado por José de Castro em 04/11/2014
Reeditado em 04/11/2014
Código do texto: T5022531
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