Sagradas Mãos

Uma mulher - minha mãe, dona Hilda,

cujas mãos lembro - mãos de uma trabalhadora,

de uma guerreira,

mãos que sempre falavam mais do que mil palavras

- mãos-poema de vida.

Nunca, em momento algum,

lembro-me de havê-la visto

com as mãos vazias, ociosas

- sempre, sempre estava a construir algo

para si ou para os outros.

As mãos de minha mãe falavam de seus sonhos,

de sua semeadura sobre a Terra nos dois sentidos.

Semeava alface, cenoura, beterraba,

e semeava estrelas nas noites de minha infância.

Ainda hoje, seu céu me alimenta,

porque ela o teceu para mim

com o calor e a força de suas mãos.