Tudo o que preciso dizer está na ponta dos meus dedos

Costumo dizer que o fundo do poço é o melhor lugar pra se estar, que se o fundo chegou é porque não dá pra cair mais, que só resta lutar para subir à tona novamente. Por isso gosto das perdas que me tiram tudo, assim, dá pra sentar em mim, olhar ao redor, e ficar. Até redescobrir a força e as possibilidades de recomeçar. Mesmo sabendo que as piores perdas são aquelas forjadas por pura negligência:

Quando se negligencia o amor, perde-se quem se ama.

Quando se negligencia o perdão, perdem-se os amigos que o merecem.

Quando se negligencia a saudade, mantem-se a distância, e se fica sozinho, vazio.

No mundo real, onde nem tudo são flores, é inequívoco que, infelizmente, as pessoas costumam julgar pela aparência. É praticamente impossível encontrar alguém que nos julgue unicamente por nossa essência. É até compreensível, pois é muito mais fácil, porém, com este hábito, grandes erros de avaliação são cometidos, e muitos deles acarretam enormes decepções e até mesmo prejuízos de toda espécie.

Muitas vezes, os sinais são evidentes, mas, parece que enganar a si mesmo traz vantagens. Pode ser que em curto prazo, mas, em longo prazo as perdas serão inevitáveis. Parece que o TER passou a valer mais que o SER, que o contrato de casamento importa mais que o amor, o funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que Deus.

É preciso aprender que o que foi perdido não tem volta, que na vida, as perdas são algo que se tem que aceitar e que aquela historinha de que o que vai volta, é uma mentira universal.

Aprender que o apego só causa a dor e a desgraça e que, se for escolher amar, não ame, pois dói menos.

A vida se aprende nas perdas. É perdendo a liberdade que se descobre que não se encaixa, é perdendo alguém que se descobre que não vale a pena lutar por futilidades, é perdendo o apoio que se descobre que o resto do mundo não para só porque nosso mundo parou. Nós aprendemos a viver assim: na marra, no grito, no sufoco, no impulso.

O tempo nos mostra que não há nada em se superar na perda, mas sim se superar a cada dia, no dia a dia que nos mata lentamente, que nos faz perder um pouco de cada dia na perda do dia a dia.

Assim, há muitos dias da vida que se tenta mudar ou recuperar um tempo perdido que mal se sabia que faria tanta falta nos dias de hoje.

Dias que hoje, nos lembram de que ontem seria melhor, se fizesse parte do agora.

Isabel Cristina Oller
Enviado por Isabel Cristina Oller em 28/10/2014
Código do texto: T5015104
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