Eu Lirico
Há tempos contaram-me sobre o tempo. Disseram-me assim: "O tempo passa ligeiro, quando se percebe é o fim." Pouco acreditei - naquele tempo parecia ter muito tempo. Aos poucos apareceram-me rugas que não desejei, olheiras que nunca antes vi, e alguns pensamentos presos se libertaram - voaram. Envelheci. Gradualmente e de repente envelheci. Tanto perdeu-se ao longo do tempo. Sinto falta das conversas jogadas fora, dos amigos que tive, dos amores que amei, e dos que ousaram me amar - falta até mesmo dos que não vivi. Falta de lugares que na época me eram imenso tédio. Sinto falta daquele senhor, que todos os dias me dava bom dia. As vezes - por vezes - ouso sentir falta de mim. Pois, não houve quem ficasse até a velhice ao meu lado além de mim mesmo. Não houve filhos, não houve amores, não houve amigos - retifico, apenas meu companheiro fiel, um cachorro que acredito eu, fugiria pela porta dos fundos caso a deixasse aberta. Não o culpo, se eu pudesse também fugiria de mim. São muitas manias, muitos desejos, muitos "porquês", muitos de mim. Quase não há alivio. Sem dúvidas eu fugiria de mim mesmo. Não que seja fácil me deixar, eu apenas não conseguiria permanecer um dia inteiro - por isso leio. Mas era sobre o tempo, não sobre mim. Este que passou tão rápido que envelheci mais 20 anos em cada vocábulo.