Quarto
Dentro do meu quarto
Só e acordada, pois o sono
Deixou-me há muito
Penso na vida passada
Ouvindo um velho carrilhão
Herança do meu avô
Que me traz tantas lembranças
De quando era criança
Ouvia-o bem cedinho
Quando vovô se levantava
Pra cuidar do gado
Que já esperava no curral
Depois herdei esse relógio
Que eu amava tanto
Suas batidas compassadas
Mas que marcaram a minha infância
Hoje não o ouço mais,
Preferi deixá-lo calado
Pois me recordam com tristeza
Sua partida, já, que era você
Aquele que o cuidava
Dando-lhe cordas e acertando
Com o horário de verão
Isso era como uma religião
Todas as manhãs, me acordando
Na hora certinha para o trabalho
Agora não quero ouvi-lo
Para não sentir saudade
Que agora, ao contrário,
Dói sem piedade!