Inventário de matéria prima poética.

Sem data de vencimento

Santa Rita, Outubro, 2014

- Duas borboletas beijando as flores do Cambará amarelo. Preta e vermelha as cores das borboletas.

- Canta alto um conhecido sabiá sobre o pé de Ipê .

- Uma folha de mangueira cai e dança ao vento sobre o piso de madeira, encantando o gato.

- O coro dos pardais

- Rumo a roça de girassol, duas maritacas cruzam o céu tagarelando em seu estranho idioma.

- tremulam as águas azuis da piscina, onde se espelham a quatro palmeiras

- Ao lado da rede de onde escrevo este inventário, uma antologia poética de Herman Hesse e o dificílimo de se ler, Ser e Tempo de Heidegger, o marcador repousa algumas páginas depois do belíssimo prefácio de Emmanuel Carneiro Leão. Tudo que capitei até agora: Ser no mundo, Ser para outro e Ser para a morte.

- Gritaria nas árvores e no telhado. Um gavião ronda o quintal e assusta os passarinhos.

-Um menino chamado vento, brinca neste momento, espantando as nuvens de chuva.

- As árvores balançando ao vento, parecem conversar por mímica.

- Um cachorro latindo ao longe, e uma mãe grita com alguma criança três ou quatro casas depois da minha.

- Um João de barro, caminha tranquilo pelo gramado, nem percebe que dois ferozes olhos verdes espreitam.

- O meu vizinho: Andar claudicante, olhar distante. Parece que se despede.

- Pérolas negras : Pela primeira vez, o pé de Jabuticaba, jabuticabeando umas jabuticabinhas.

- Vindo do quarto, atravessando a sala e alcançando a varanda onde estou a vós dela, cantando a ária: Una furtiva lágrima...Negli occhi suoi spuntò...

- No portal da frente, o mensageiro do vento.

Ele nunca repete a música,

Lembra filmes do Kurozawa;

Estradas entre bambuzais.

- De repente: Uma saudade dos meus amigos e da minha vida no front. Penso, mesmo se existisse a magia da volta,

eu não voltaria.

Outros são meus sonhos agora.