Mistério

A gente nem sempre acerta nos pedidos que sobem de nossas mentes rumo ao céu. Olhamos para o alto e vemos apenas o que nos é permitido enxergar. Provavelmente isso seja atributo da falta de tudo que temos. Essa distância que alcançamos com nossos olhos – de estrelas que nem estão mais lá – é apenas uma mostra do quanto há para ser descoberto.

Decerto, o reino de Deus pode estar entre tudo o que vemos, invisível à nossa imperfeição, numa glória que nos seja tão impactante quanto inacessível a partir dessa matéria onde moramos de aluguel. Pode ser – e até parece – que nosso destino seja o mesmo de nossa origem. Inclusive, há quem acredite que rondemos a atmosfera da Terra até que possamos ser fecundados no ventre da mãe que Ele nos deu.

E essa correspondência que podemos sentir pela mãe, pode não ser apenas uma questão de convívio. O laço é forte, de nos fazer dependentes por longo período. Essa existência dependente de alguém para aterrissar aqui, parte de um projeto bem calculado, que considera o fato de que vamos envelhecendo a partir de existir e não o contrário. Desse jeito, cada nova geração tem na tradição um legado que cada pai e cada mãe nos deixa.

E esse amor maternal equivale ao capricho que a Terra nos tem, com todo alimento que uma explosão não daria conta de nos proporcionar. Essa dinâmica de reprodução e manutenção da vida não faria qualquer sentido se existir fosse um acontecimento perdido em um planeta fixado num ponto preciso em que a luz solar oferece essas condições. Estamos especialmente perto e distantes o bastante do Sol.

Nada mais, nada menos que muitos de nós já se questionaram passado adentro, de que origem e destino somos. E, nesse sentido, quem duvida de alguma razão maior, está mais apto a reconhecer que nenhuma outra espécie tem a consciência de que partimos da vida para a morte. Quem crê na evolução também deve entender que os outros seres sejam como as plantas no que refere a razão de ser.

Entretanto a maioria deles só se dará conta de que a luz que nos guia é mesmo uma fonte de energia maior, quando chegarem à próxima estação. Para estes, apesar de todos os sinais, o milagre da morte só terá nitidez quando partirem para o lado da existência em que as respostas da ciência se cruzam perfeitamente com as perguntas da vida.

Serão os maiores curiosos de tudo que desprezaram durante toda a viagem que percorreram, nas voltas que esse mundo dá. Irão se perguntar, como não desconfiaram que essas voltas eram parte de um tempo que não faz sentido algum fora do que aprendemos chamar de mundo.

Terão que admitir que existir sem sentido era ignorar a razão de tudo que a ciência ousou duvidar. Talvez até queiram voltar, sem saber que aquele será o regresso de quem um dia respirou num mundo cheio de pistas da criação. Mesmo para quem tem fé, essa vontade pode ser bem provável, pois nenhum lugar da Terra deve ser prova maior do que a própria vida fora dela.

Ainda que o nosso planeta nos pareça uma prisão, essa aventura deixará saudades de tudo que se pode viver no plano material. Desse modo a vida só pode ser plena se tivermos agora a fé de que o imaterial seja grande o bastante para nos explicar o privilégio que temos de ouvir, sentir e tocar tudo o que vemos.

Assim, para Deus, deve ser compreensível que nossos pedidos estejam tão ligados a tudo que podemos ver. Talvez, até por isso, Ele nos faça algumas concessões, apesar de já nos ter dado tudo o que tantos seres poderiam gostar de ter. Mesmo sabendo nós, que para isto, precisariam já ser humano, desta ou de outra humanidade. Portanto, muito mais que pedir, é uma questão de justiça a gente agradecer. Daí, a importância da fé.