A
personagem
encarnada (EC)
 
 
A personagem que me veste...
 
Incorporo há tempos um anseio de não saber o que,
Uma criatura que suscita fuga
E ao mesmo tempo se aprisiona em mim,
 
 
Há um texto,
No qual se cumpre a rigor,
E declama de improviso,

Ais e quereres...
 
 
Há um amor exacerbado,
Inconsciente e sem compaixão,
Um infinito rol de palavras
Contido de conflituosos gestos,
Que averiguam a alma

Incorrendo em delitos,
Amam acima do bem e do mal,
Complacentes e desejosos de amor cada vez mais.

 

 
 

Visto-me de cores, adornos,
Fico assim um tanto
vermelha, corais, cor de sol,
Colorem-me as vestes que me fazem personagem de Almodóvar,
Faço-me alguém em drama,

Meus amores insolúveis são de cunho trágico,
Descubro-me inteira e encarnada,
Apaixonada, intensamente apaixonada,
Como se esse fosse o derradeiro amor,
Como se o amor sentido a cada segundo se esvaísse... Em gotas de sangue...




 
 

Meus amores são ofertados, derramados,
Caem em sonoras cascatas,
Inevitável alagamento...

Maremotos em profusão...
 
Amo integralmente, nada de repartido,
Nada de doses, de parcialidades,
Amo com imensidão, gigantismo,
irrefutável amor,
Incondicional amor...
 
Amor cego,
Que não se dilui,

Denso... Fervilhante...
 
 
Ah, essa Lydia, Raimunda, Manuela e tantas mais, estão implícitas, patenteadas em meu universo, habitantes da mulher indecifrável e compreensível que sou...

 
 
 


Original escrito em 14 05 2008, agora reeditado.
 

 
 

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Encontro com uma personagem
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Roseane Namastê
Enviado por Roseane Namastê em 20/10/2014
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