Prima Vera
"Prima Vera chegou aqui em casa outro dia. Veio enfeitada com flores de plástico, trouxe um punhado de lamentações novas consigo. Entrou porta a dentro, mal falou comigo. Tratou logo de arrumar a bagunça de meu quarto. Há tempos não a via tão preocupada com o caos que por aqui instalava-se. À noite sentou-se a mesa, chamou para um café amargo. Conversamos um bocado. Contou-me dos martírios e das lamurias de florescer tão tardiamente. Aconselhou-me um remédio; Algo que curasse um pouco deste tédio e revivesse as flores em meu peito. Abraçou-me um momento, minutos depois da última xícara. Prima Vera, deitou na rede, em frente a janela. Olhei-a de longe, de meu quarto já limpo e arrumado. Naquela noite não choveu. O céu não nublou, nem a lua se escondeu. Dormi. Sonhei. Pela manhã, Prima Vera, deixou-me flores. Enfim, sorri."