O Meu Primeiro Beijo

Não sei porquê, há cenas do cinema ou no dia-a-dia que sempre me fazem lembrar o meu primeiro beijo dado a sério e verdadeiramente sentido e apaixonado.

E fico um tanto melancólico e perdido na nostalgia que elas me provocam, dá-me quase vontade de chorar essa boa lembrança que vai ficando invariavelmente perdida no esquecimento do meu passado, desvanecendo-se da memória aos poucos e poucos.

Até vos conto mais, ou seja a história toda, foi uma moça que encontrei uma vez numa tarde dançante num clube típico aqui em Lisboa, devia eu ter uns quinze anos tal como ela ou se calhar menos até. Éramos jovens inquietos à descoberta do sentido do Amor compartilhado

A música romântica dos anos oitenta estava rolando gostosa e convidativa ao romance, e eu ficava sentado irreverente com a minha cerveja na mão ouvindo, até que reparei nessa moça me olhando fixamente, e eu tímido como sempre fui fugindo periclitante ao seu olhar furtivo.

Passou uma sessão, passaram duas até que à terceira vez em que fui a esse baile, ela tomou a iniciativa, se levantou, tomou a minha mão e me levou para a pista de dança para dançarmos um slow juntos.

E como foi mágica essa dança, inesquecível, agarradinhos, nos braços um do outro entregues, ela respirando ofegantemente ao meu ouvido arfando, eu perdendo a força nos joelhos constantemente, e como os nossos corações carentes palpitavam de contentamento e satisfação tão sofregamente.

Foram duas músicas que dançámos juntos, e como souberam bem meu Deus, momentos de pura felicidade e empatia inocente, fomos cúmplices e testemunhas de algo tão grandioso que estava para além da nossa compreensão.

Seria o Amor na sua forma mais pura e implícita, que ali no meio dos dois, tinha feito guarida demonstrando o seu poder feérico.

Só sei que no fim da última música ela me olhou demoradamente como que entrando em minha alma, e logo capitulei à sua investida e me rendi incondicionalmente à sua essência despida de segundas intenções.

Tão verdadeira, meiga e bela então ela me pareceu ser, insurgindo do nada perante a minha absorta contemplação.

Foi aí que ela me beijou e eu me arrepiei todinho, e nós nos beijámos naquele imemorável dia como se apenas fossemos nós que existíssemos naquela sala, e o próprio beijo tivesse ganho vida própria percorrendo-nos em torrente de desejos e anseios apaixonados.

Esse inesquecível beijar dado, tão bendito que talvez fosse afinal o percussor da felicidade que nos invadira nesse instante cheio de paz e tranquilidade.

Ela acariciou-me com sua mão a face meiga e ternamente em forma de despedida, virou costas e saiu, e nunca mais a tornei a ver na minha vida desaparecendo tal como uma sombra no nevoeiro como se de apenas um mero sonho se tratasse.

Ainda hoje me questiono se tudo aquilo que descrevi, realmente teria acontecido assim, ou se seriam apenas falsas memórias induzidas na minha mente, em sonhos latentes entretanto vividos ao longo da minha vida.

Não sei sinceramente, se foi apenas um desejo exacerbado meu de ter um primeiro beijo assim como o dos filmes de amor tão belo e simpático, perene e fiel fabricado na minha imaginação tresloucada para contentamento do meu espírito dúbio.

Seja o que tiver sido, não quero saber entretanto, pois ao fim ao cabo só conta essa memória revivida pontualmente para minha auto-satisfação e recriação pessoal, e quem quer saber se é verdadeira ou não, isso agora pouco me importa e importará.

Apenas aquela moça poderia confirmar efectivamente a veracidade desse famigerado beijo, se a pudesse entretanto alguma vez vir a reencontrar.

Paulo Gil
Enviado por Paulo Gil em 16/10/2014
Código do texto: T5001485
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