O tempo dos nossos pés
Tu não vês... ou vês?
Ao olhar humano, o Teu segundo é impossível de decifrar.
Eu vivo andando pelos campos,
(sementeira marginalizada),
aqui e ali,
me perguntando, buscando...
Onde estás? Onde estás?
Eu só sei que caminho.
A grama me arde os pés. Aqui e alí,
escondidos do olhar humano,
os deserdados me esperam.
Esperam-me como Te espero há milênios.
Tua criatura desesperada, que de Ti nada sabe,
a não ser que brilhas em alguma dessas estrelas na noite,
vigiando o tempo dos nossos pés.
E me vem essa idéia louca de renascer
algum dia, de alguma árvore
ou de algum pasto maior,
para receber, sem nenhum aviso,
essas lágrimas que jamais confundirão
eu e meus deserdados
que sejam as do Teu céu.
Então todos nos perfilaremos como irmãos,
partilhando do mesmo ninho
nos ramos do Teu coração.