Aquele Par de Mãos
Soprava uma brisa fresca nessa tarde de Inverno encoberta,
E foi quando dois namorados à minha frente se sentaram,
E eu fiquei de soslaio ali observando-os disfarçadamente,
Ela frágil e pequena como uma loiça cara de porcelana rara,
Ele alto forte e desajeitado acompanhava-a de perto ao lado,
Pousaram num murete alto onde os pés dela não viam chão,
Ela com os pés leves a balouçarem investe com a sua mão,
Procurando decidida pelo seu par escondido num bolso,
Quando alcançada se entrelaçaram os dedos carentes,
E apertaram com gosto e sentimento os dois as mãos,
Ela encostou ternamente a cabeça em seu ombro subido,
E ali ficaram assim embevecidos e absortos no seu Amor,
Ignorando tudo e todos à sua volta, só eles existiam apenas,
Nem o céu coberto de nuvens a augurar chuviscos fracos,
Nem o cair da noite embalada pela brisa fria vinda do mar,
Só importava aquele raro momento de felicidade conjunta,
Aquele perene par de mãos entrelaçadas nesse instante,
Que lhes ficaria a iluminar a memória para todo o sempre,
E eu confesso como os invejei nesse dia de mãos dadas,
Por não poder desfrutar desse Amor irracional tão puro,
Contigo minha querida amada que estás tão longe de mim,
Como desejo acariciar tuas mãos de veludo nas minhas,
E ter tua cabeça pernoitando em meu ombro achegado,
Mas são só sonhos quiméricos olvidados na chuva que cai.