O SEGREDO

Ninguém sabe mais de nós que nossos segredos. Eles são o nosso oculto de nós mesmos. Os segredos revelam aquilo que nem nós queremos saber. É aquela parte que nos habita sem mesmo que saibamos. Não são invasores, nem visita indesejada, porém, quase sempre não gostamos quando dão as caras.

O segredo é aquele inesperado saber que não passamos de meros mortais; é aquele micro tempo que nos toma e nos joga na cara nossa insignificância perante o mundo. É o esfacelamento daquela torpe certeza de que o mundo nos pertence por direito sobre todo o resto dos homens. É o fim da ilusão de que o som dos tambores não alcançará ouvidos treinados para não ouvirem o chamado para a grande batalha.

Somente quando o oculto sonho se revelar possível e necessário, somente quando a noite adentrar as casas e não fazer tremer de frio corpos ainda ingênuos, é que será possível pensar no dia que chega como a vinda daquele que saiu em viagem e voltou amparado pelos braços abertos daqueles que o amavam.

O segredo é a prova de que nada está oculto nos mais íntimo de cada ser, na medida exata mesma que dele ninguém escapa, pois, mesmo que se queira o anonimato, tudo se revela quando, num pequeno deslize, a voz contrária se dispõe expor a falácia afirmação daquele que, sobre o palco, afirma dizeres que não condizem com o dito. E já não será mais segredo. O desconforto se instalará. Fortalezas se implodirão como que sob seus alicerces, antes vistos os mais sólidos, tivessem sido colocados dinamites; tudo será pó, tudo será entulho, tudo será só amontoados de esparsas ideias frágeis como um castelo de areia.

O segredo se revela, denuncia o torpe jogo dos poderosos; dos aviltadores do povo e suas promessas de campanha, mas, quando chegam ao topo do poder, nada mais lhes impede de cometer os mais horrendos crimes.

E, então, como se a noite não terminasse, pairará sobre o dia, a densa névoa do medo. E todos, homens e mulheres, jovens e velhos, não importa, todos estarão condenados sob o secreto segredo do fascista. E tudo será anunciado com pompas e oradores a postos a transmitirem as boas novas....

Eis o silêncio

Eis a dúvida

Eis a curiosidade

Eis a morte.