Cenas inacabadas
A vida se assemelha a um filme em tardes descontraídas. De simples espectadores, passamos a astros de nossas próprias histórias. Atores e atrizes em busca de reconhecimento e fama. Glórias pelos nossos feitos.E seguimos iludidos. Que em uma bela noite de gala, sob as luzes dos holofotes e flashes, possamos segurar entre as mãos o tão desejado OSCAR.
Não existe uma cartilha definida com passo a passo ou simplesmente um guia prático em 25 lições. Acredito que ela é repartida em pequenas tiras. Fragmentos finos que nos envolvem nas sequencias diárias. O filme passa. E a história continua sem cortes, remontando novas cenas, idealizando tantos finais... nem sempre felizes.
O que nos impulsiona nessa busca por realizações?Os encaixes, as caras metades, as ascensões financeiras, as obrigações arreigadas de exigências. Um turbilhão de cenas que nos acondicionam ao desespero. Chegando as proximidades do caos.
A mesma paisagem dependurada na parede. Rabiscos sem nexos espalhados pelos caminhos. Folhas resumidas no vestir dos dias. Não temos tempo de olhar as causas. Não nos distraímos com as pequenas coisas. Somos alvos fáceis para o mal.
São inquietantes as sombras.Lamentações obliquas, nesse mar de almas perdidas. Máscaras difusas camuflam o medo. Acondicionados a esses emaranhados de fios, MB, GB, TB e ondas, relutamos em reconhecer nossas fraquezas.
Esse brilho de plástico nos parapeitos cinzentos. A necessidade se acotovelando entre ruídos e fumaças. Pessoas ásperas, rudes, recalcadas, alimentando seus carcinomas.
É o silêncio remoendo as dúvidas, aprisionando o tempo, envelhecendo a esperança. O existir aprisionado em caixotes de cimento e aço.
Há um pedaço de estrada no chão de cada um. Travessias individuais, trajetos e particularidades que não ousamos descobrir.O que há são relacionamentos superficiais. Gente escondendo de gente. Subtraídas de suas reservas, vistas de um mundo em preto e branco.
Esquecemos que nada nos possui.Continuamos presos no casulo sob condições de extrema miserabilidade de alma. Difícil aceitar a inexorabilidade da vida. Não somos donos de nada. Apenas ciscos doentes nos emaranhados do próprio destino.
Seria maravilhoso se a palavra se soltasse das linhas e pudesse adentrar os meandros do leitor. Pousar suas estâncias e volver de maneira gentil todas as suas moléculas. Recolher as posses do egoísmo, reestruturar o amor em suas diversas formas, perpetuando raízes verdadeiras.
Que possamos dar asas aos nossos pés. E nesse revoar apreender os ensinamentos do horizonte.
As cenas são sucessivas.Não adianta prender o tempo caro leitor. Aprender com ele adorna nossas lembranças. Cicatriza as feridas mais profundas e sistematicamente libera novos caminhos. Não recue simplesmente. Acredite no sol de cada manhã. Ninguém é permanentemente igual. Lembre-se que o futuro é tão somente um presente que ainda não nos chegou às mãos.