Desfluxo de consciência
O que que se faz com uma agenda bonita, cada de couro, que compro sempre no fim do ano velho para registrar momentos importantes dos meus dias, quando não os tenho efetivamente vivido? As datas estão mudando, estou sabendo, contudo as linhas brancas e vazias das páginas da mesma agenda denunciam as poucas, ou nenhuma, vivência que tenho tido. Tenho virado as suas páginas apenas para saber que dia é hoje, os números que elas informam apontam o passar do tempo, aniversários, feriados, a proximidade das estações, mas não indicam o que fiz, quem amei, quanto tempo passei dedicado a algo que desejo. Tenho carregado comigo o tempo e de vez em quando reparo que ele muda. Geralmente não costumamos ver o tempo quando vivemos plenamente. Sou o próprio destempo em dias incansáveis de descanso. Tenho estado morto para ver o tempo viver.