Pela fresta da janela
Depois de um longo inverno, esperei ele voltar.
Ouvi passos na varanda e pela fresta da janela
Eu o vi se aproximar..
Demorei pra abrir a porta, pra meu coração testar
Senti uma imensa tristeza, por nada dentro encontrar
Procurei por sentimentos, mágoas ou decepção
Estava tudo vazio, sem vestígios de emoção...
A falta que ele fazia, quando a noite chegava e os
minutos se transformavam em conta-gotas, a passar
lentamente pelo murmúrio do silêncio que precede
a madrugada, onde os pássaros procuram os galhos
para se aquecerem do frio, que estava a espreita,
eu não sentia mais...
Nessa inquietude profunda, neste turbilhão de
sentimentos, eu fico querendo sair, saio
querendo ficar. Ficar para tentar observar se ainda
há pequenas sobras do grande amor que sentia...
Sair porque o amor é dor é saudade é tristeza e
mesmo assim, eu não quer perdê-lo, porque ele
preenche a lacuna que não quer ficar oca...
Saio e vou ao seu encontro, fico um longo tempo
em silêncio no seu abraço, sou como as flores
do meu jardim que ficam a espera do orvalho que
de mansinho vai caindo até elas adormecerem...
Ficamos assim imersos, a preencher a lacuna do
longo vazio das distâncias, absorvendo cada segundo
da longa pausa das ausências.
Como dois corpos e duas almas em autêntica e
sublime fusão.
*Aqui deixo um poema que fala mais de mim que eu mesma".