Meu Padim Ciço

Até a lama raivosa do rio deixou o seu rastro. Foi como um Tânatos a desfilar de braços dados com a moça. Pediu ao padre: - Ô meu Padim Ciço, venha pra perto de mim a não me largue, senão afogo nesse miserê de rio parvo. As águas já não correm e estagnaram. E nem o meu miolinho de pão encharcou-se para a diversão dos barrigudinhos. Essa cena é real meu Padim? Ou estou vendo além da imaginação? Até quando rezaremos o quinhão para que possamos na comunhão termos uma pequena parte? A vida é ruim, meu Padim...? fala "pá mim"?

A vida é ruim... é meu Padim?

E são Pedro roncou trovoada, desceu dos céus a enxurrada de bênçãos bem no olho d'água. Até molharem os pezinhos sujos da moça. E até Tânatos se afogou numa poça. Os bichinhos correram ao encontro do açude, fizeram festa amiúde, foi-se a larga amplitude do alarde. E da virtude da moça que chamou o "Padim". Ela não sabia rezar direito, mas aprendeu a ter fé. Aprendeu a ter vontade e na vivacidade de suas palavras, atendeu-na naquela madrugada toda a vida em abundância.

- Agora, meu Padim, faz outro favor "pámim" - Faça-me esquecer aquele traste. Arranque-o do meu coração. Não me traga na palma da mão o meu cárcere. Que eu siga a trilha dessa vida, de pés no chão. E mesmo na trilha dessa lida. E que a saída seja ali... logo ali a quilômetros de distância, né Padim? Eu sei que nada é fácil nessa vida.

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Fim.

Kathmandu
Enviado por Kathmandu em 23/09/2014
Reeditado em 23/09/2014
Código do texto: T4972759
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