Todas as primas de Vera
Como em um mosaico, assim se me mostrou em cores vivas toda a sua viva alma primaveril. Tucanos, araras, o pardal. Acordei no canto do sabiá, flores a mancheias, universos de arco- íris, a tua íris, canção tua, o meu coração inaugurando um Brasil de roseirais.
Açucenas carmins, o asfalto das ruas de pétalas pleno. Rio que deságua em vertigem das fontes dos mais recônditos grotões, gotejando na minha sede de todos os dias.
No entrevero das folhas que se renovam, no ar das aranhas que teiam as suas teias, no hiato de um doído grito, apareceu-me escarlate nesse setembro fecundado de matas virgens o indizível.
Assim, de gota presa na glote, da nuvem que vai passando, deixando a franja de um sol mais generoso no céu do hemisfério de cá, foi-se descortinando uma paisagem: a miragem do paraíso, de todos os seres alados, de Silfos, de Ondinas, de Fadas, de fumaça, de decantação, a emoção da brisa no olhar.
Aquarelas em voos de borboletas, jatos de tinta no ar, o olhar das árvores do mundo, cobra coral transmutando, o passarinho que voou, há muito ainda que se admirar.
Vou compondo o meu recital com olhos crispados da clorofila, de um momento contemplativo da coisa imperceptível, da alucinação da semente da vida, daquilo que não me foi escapado dos sentidos: de um instante fez-se o eterno. E olha que já deixamos o inverno, aqui perto passa um rio; vamos nos banhar.