Soltando as palavras
Faz tempo que não dou boca às palavras... digo; deixo que andem sem o estreitamento das rédeas que as fazem seguir dóceis nas raias dos versos. Farei diverso. Solto está o freio para que achem sozinhas o rumo de casa; ou, que se percam alhures.
Podem revisitar, caso queiram, amores que falei e não fui ouvido; amores que ouvi e desamei. Se quiserem rever até o ódio, tudo bem.
As palavras costumam ter trânsito livre e dirigir bem; exceto, quando, se distraem com o devaneio e ignoram o sinal vermelho do silêncio... as multas do desengano sempre pesam no bolso. Na verdade não há lei que casse nosso direito de dirigir a palavra, mas sempre corremos risco de atropelarmos à sensatez...
Não se enganem, não estou falando agora; sentei no banco traseiro e me deixei conduzir para ver onde elas me levam.
Há quem pense que o poeta é como um piloto de Fórmula 1 veloz e preciso na corrida das belas falas... nem sempre; mesmo os tais cometem inadvertências e a poesia vegeta em tais casos. O sol da inspiração não brilha nas noites da alma.
Como há seres anaeróbicos que vivem sem oxigênio, há palavras que vão muito longe sem coração. Contudo, que vale peregrinar num cenário “Walkin Dead” com tanta vida a pulsar na veia?
Certo, temos o mau exemplo dos políticos que matam as palavras e o silêncio com um tiro só. Suas lábias vazias ganham votos, dinheiro, roubam. Nem são tão vazias assim; antes, cheias de maldade.
As minhas não são vazias nem cheias, apenas estão por conta; que deixem ao bel prazer o lugar onde vivo; saíram sonhando com um mapa; ouviram falar do ócio criativo... é seu dia de folga usem. Tanto marchar certinho na ordem unida dos versos usando a rígida farda das rimas; hoje é domingo, descansem, silenciem, ou, espalhem-se.
Não raro a vida nos testa e detecta lapsos na visão ao renovarmos a licença. A receita? Óculos do discernimento para dirigirmos a palavra sem atropelar a ninguém.
Mas, ousa andar mais veloz, que sequer licença tem. Tanto silêncio disponível não usado; ainda com selo!
A fonte dos mal entendidos jorra, no deserto da prudência... às vezes, ao quebrar o silêncio batemos tão forte que quebramos junto a paz...