Adoração à Virgem
força que arrebenta meu corpo
neurótica, compulsiva, controladora
apesar da aparente clareza que habita meu interior
no exterior eu me revelo
caótica e destrambelhada.
paciência não me foi facultada
uma granada esperando quem tire o pino
a magnitude do luar cheio me destempera
um ímpeto atravessa as paredes do quarto
e quando percebo estou feito bicho adorando
a esfera prateada.
para sorver dos meus olhos uma ou cinco lágrimas não é necessário empreender demasiado esforço.
choro com tudo que vejo porque tudo me emociona
os pássaros a se refrescar em poças sujas
gatos cultuando o sol num exercício preguiçoso e contagiante
as formigas cegamente movidas pela coerção de seu grupo
o beijo falso do filme
a saudade da inocência inócua que me povoava e me consumia
as árvores com suas copas gritando o colorido da cidade caótica que Baudelaire cantava em seus versos
eu choro demais, tal como faço agora
fortaleza é como procuro manter parte do meu corpo
minha consciência
uma rocha intransponível
quero olhos me fitando tal como
mulher forte, dura, sozinha
tanta dissimulação para no outro instante alguém me virar do avesso
desvendar, constatar minhas incontáveis fraquezas
medos, aflições, loucuras e desvarios.
orgulhosa em todas as acepções que a palavra possa abranger
dispensando maiores detalhes.
Sensível, chorosa, manhosa
gato à procura de afeto ao se enrolar no morno das pernas
se fosse possível o ronronar seria meu hino, meu canto.
Sou muito eu
Imensa
Muito intensa