A mulher vegetariana do açougueiro

Ele diz que só há um motivo para que não seja, também, como sua mulher. A carne. Ela diz que só há um motivo pelo qual ainda está com ele. O dinheiro da carne. Ambos concordam que um grande pecado da carne é a gula, embora apenas ela não cometa pecados por comer carne, com ou sem gula. Já ele, peca que é uma belezura. Carne de boi, de vaca, de porco, de porca, de frango, de franga, entre tantas outras, exóticas ou não-exóticas, carne de soja não. Aliás, era uma febre que foi tão breve quanto veio, essa história de carne de soja. Ora, se é carne, como pode ser de um grão? Embora os animais das carnes que comemos sejam alimentados com vegetais e coisas do gênero.

Ela prefere ser saudável. Ele prefere ser feliz. O médico passou para ele uma dieta à base de carne branca, em função de seu ácido úrico atacado, e ele não hesitou, separou logo vinte quilos de toucinho do próprio açougue para passar o mês. Ela disse para o médico, pois acompanhava o marido: doutor, esse homem gosta tanto de carne que me chama de filé, vê se pode! O médico sorriu e endossou que dessa carne o homem poderia se esbaldar. A mulher meio acanhada, ainda disse: calma doutor, aliás se puder receitar um remedinho para a outra fome dele, seria bom para nós dois. Ele passou um tal remédio azul que alegrou o casal de incompatibilidades gastronômicas.

Ah! O amor, não olha gostos, nem sabor, ele só olha se quem quer ser feliz está disposto a ser de fato. A mulher, na verdade não o quer só pelo dinheiro da carne, eles se amam verdadeiramente e uma coisa é certa, se fecharem o Açougue e abrirem um Verdurão, talvez ela mude seus hábitos, ou não. E ele! Ah! Ele, enquanto isso, vai levando a vida dura num churrasquinho aqui, e outro ali, de picanha, de uma costela três ripas, de um contrafilé. Enfim, somos todos de carne e osso. Ela é vegetariana, ele não, mas ambos são uma só carne.