Desculpa, mas acertou
Desculpa, mas me acertou em cheio.
Eu, logo eu que vivia assim, ao esmo, sem sorrisos ou preceitos, sem motivos para ser amada... Eu! Entende? Logo eu, a "desalmada"! Agora me fala, o que eu faço com esse pote grande, transbordando, escorrendo, borbulhando amor? Onde escondo essa cara boba de quem aceita e gosta, me dêem um curativo pra fechar essa ferida exposta, isso é doença, só pode ser.
Criemos um analgésico, vacina, emplasto, já nem sei mais o que faço. Para onde devo correr?
Toda noite é a mesma coisa, fecho os olhos e a insônia vem e me acompanha, deita-se ao meu lado, a murmurar.
Meu corpo que era gélido, agora padece de um fogo eterno e só adormeço quando é dia claro. Dormir para acordar.
Não como, não sinto fome, ando sozinha quando a cidade ainda dorme, fico assim, a pensar. Já na mesa do trabalho, vejo as horas passarem lentas, quase escorregando para trás. E a cada minuto que se passa é bom demais. Sobem coisas pela laringe e a língua não obedece ao corpo, pêlos se arrepiam em alvoroço, como se alguém respirasse em meu pescoço, me pego a chorar.
Laís, Laís! Se ponha em seu lugar. Falo com o espelho, depois com as paredes e o banheiro... sento no chão em desespero, chego a não acreditar.
Quando já é hora de deixar o serviço, digo tchau e não repito, a fim de não me demorar.
Hoje, quem sabe hoje, vamos nos falar. Conversa tola, pois o que importa a cotação do dólar, imposto de renda ou emenda constitucional? O amor chegou e colocou cores no meu jornal, criou flores na jardineira e entupiu de sorvete a geladeira, sim, me amoleceu.
Tudo bem, eu me rendo, mas vem, vem me dar um beijo? Faça mil perguntas, sobre lugares, paisagens, condutas... só não esqueça de me beijar.