A conquista
Estamos todos no empenho de sermos mais, uma vida toda. Na infância queremos ser mais fortes e mais populares do que aqueles com quem convivemos. É como se a escola estivesse ali para isso. E para tanto vale pintar o sete para chamar a atenção, brincar de luta para testar os colegas, testar e testar a paciência dos adultos... enfim, estamos descobrindo o mundo naquele espaço que temos para conquistar.
Mas o que a fantasia já anuncia nessa fase é uma maratona que a vida vem reconhecer a cada ano que passa como a necessidade e a importância de vencer. No vale tudo da vida, vale "eliminar" (no sentido de ultrapassar) os concorrentes do vestibular, do concurso, do ambiente de trabalho e todos os que ousarem nos tomar o que julgamos ser nosso.
Se um pode consumir o que lhe for desejável, não lhe importa se o vizinho não alcance os mesmos mimos. E se importar, é mesmo pela satisfação que este tem de ter um carro novo e o outro não. A maioriade nós caminha sem preocupação por ruas onde outras pessoas dormem. E há ainda quem ache feio uma cidade ter esses desalojados por aí.
Na Terra em que é preciso conquistar, alguns chegam a condenar as ações do governo que levam comida para aqueles a quem faltou sorte. É como se os pobres fossem menos capazes e os únicos responsáveis por sua pobreza. Ninguém assume sua parcela de culpa na desgraça alheia.
A necessidade de conquistar, não leva em conta que os nossos semelhantes das "classes mais baixas", (será que isso existe ainda?) se sintam inferiores porque não podem comprar tudo o que a TV quer vender. Assim, vivemos uma Era de depressão e crescente ocorrência de suicídios.
E quem pode negar que a criminalidade também se explique por esse motivo? É muito comum vermos ladrõezinhos pobres, pois só podem querer tomar tudo a força, aqueles que a vida sequer deu chances de conquistar algo por mérito.
Os filhos dos granfinos, quando querem meter a mão no que não lhes pertence, recorrem à política. Lá encontram caminho mais fácil para roubar da sociedade toda e com muita classe. E ainda sentir o sabor do poder. Lá, podem pensar que estão acima de todos e bajulados ainda por muita gente.
Nosso capitalismo é mesmo uma fabrica de loucos. Uns enfrentam a loucura que a vida proporciona para sobreviver, outros são derrotados pela loucura de serem melhores que os outros. Essas loucuras se complementam e juntas formam esse hospício que chamamos de vida.