O DOUTOR,E O VAQUEIRO
Sinho Douto,ouça bem o qui vo ti fala,
não adianta fingi,faze di conta num escuta.
Sei qui esta cum muita pressa,mas já ouvi muita controversa,isso num vai cola.
isso já mi deu muito problema,já num sei qual foi o esquema,
minha cabeça ta duendo,acho vo acaba morrendo.
Sinho douto,mi esperi pur favo,desmarqui sua viagem,
ouça bem minha mensage,ora,chega di sacanage,precisa mi escutá.
O sinho,mi pagava poco salário,cai nu contu du vigário,
veja aondi fui pará.
Cabelo grande,barba crescida,feição iludida,e dor na barriga.
Era tamanho sofrimento,muntava num pobre jumento,
eu muito inteligente,era pobre mas valente,
sempri vivi contente,mas u sinho mi humilho,minha vida arrazou.
Num mi deixo estuda,mi fez só trabaiá,num mi deixo casa,
num mi deixo munta uma familia,disse qui eu num podia,tinha qui trabaiá.
Trabaiei na envernada,era no sol o cabo da inchada,
cuidando du seu gado,deixandu a vaca ordenhada.
Num deste-mi valo,trabaiei cum tanta dor,derramei muito suor.
Mi trato na chibatada,chorei muito na invernada,pra mim,minha a vida acabo.
Trabaiei muito doente,dor na barriga,e dor di dente,
o Sinho,num fez questão,num mi arraumou nenhum tustão,
os rico pensa qui o sinho é muito bão.
Sinho DOUTO,passou a mão na minha princesa,hó meu DEUS,quanta tristeza.
meu mundo pareci ter cabado,mi senti lesado,pareci qui fui roubado.
Ti construí um arranha-céu,mas o sinho num vai pro céu,
mi falo muita bestera,isso é coisa du capeta,hó meu DEUS,qui homi tão cruel.
Era pra mim,ser homi estudado,há muito tempo teria si formado,
ia trabaiá só na caneta,tirar e por genti na cadeia,
hoji sou um homi leigo,num sei fala,
somente sei trabaia,óia só qui coisa feia.
Sei qui num usou de gentileza,fez comigo safadeza,falto o pão na minha mesa,isso é obra do acasu.
GERSON
NOITE ILUSTRADA